quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Professor da geração Y vê tecnologia como estímulo ao raciocínio

Esse texto é bastante interessante e resume muito bem tudo que estamos discutindo nas aulas de Tecnologia Educacional.
"Professora de educação artística há mais de 20 anos em escolas públicas e privadas, Neide Ressineti passou a noite de um sábado em busca de vídeos sobre circo na internet. A arte circense seria tema de uma de suas aulas na segunda-feira e a experiência, principalmente a recente, a ensinou que, sem usar tecnologia, seria impossível prender a atenção de 30 adolescentes com celulares e minigames na mochila, ainda mais em uma disciplina como a sua, sem o mesmo peso de um assustador problema de matemática.
Neide tem dois laptops em casa, ambos fornecidos pelas escolas onde leciona (inclusive a pública, que financiou a compra do aparelho). Ela faz parte de uma geração de docentes antenada com a tecnologia, assim como os alunos que frequentam suas aulas. Somente com giz e livros didáticos seria impossível nos dias de hoje acompanhar a velocidade com que crianças e adolescentes absorvem informação.
"Ao mesmo tempo, os jovens falam ao celular, usam comunicadores instantâneos, raciocinam para mudar a estratégica em um videogame e têm a televisão ligada", afirma Marina Caprio, coordenadora do curso de pedagogia do Sistema COC.
Para Marina, a escola não pode fechar os olhos para o avanço tecnológico ou para a velocidade com que a informação se multiplica. O segredo é saber lidar com a nova realidade. E ela afirma ficar satisfeita ao ver que uma nova turma high tech tem passado nos vestibulares de pedagogia. "São futuros professores abertos à modernidade. Eu mesma me considero assim", diz.
Mesmo na escola pública, onde a princípio o acesso às novas tecnologias é menor por parte dos alunos, a professora Neide Ressineti utiliza o Data Show, uma espécie de projetor, que usou para reproduzir os vídeos sobre circo. Tornar sua aula interessante, com possibilidade de interagir com os alunos, é vista por ela como ferramenta para convencer seus alunos a manterem os celulares e aparelhos reprodutores de música desligados. "Preciso estar sempre pronta para aprender novas técnicas", argumenta.
Para a pedagoga Marina Caprio, o aluno de hoje é diferente do estudante que frequentou os bancos escolares há 30 anos. Aliás, a própria estrutura da sala de aula deve ter outra dimensão, sem trocadilhos futuristas. Para lecionar na universidade, ela usa recursos como lousa eletrônica. "Não se consegue mais voltar atrás, o presente é assim e vai mudar cada vez mais rápido. A tela tem roubado a função do papel."
Geração Ctrl, Ctrl V
Docente do curso de pedagogia da PUC-São Paulo, Madalena Guasco Peixoto conta com aproximadamente 25 anos de carreira e viu a transformação na forma de ensinar. O segredo, diz ela, é saber fazer o aluno ter raciocínio para interpretar o volume de informações que recebe a todo instante. É esse o papel do educador, que necessita fazer o aluno provar que não copiou um texto sem checar sua veracidade.
Existem muitos métodos para isso, como o debate em sala de aula. Junto a seus alunos universitários, Madalena utiliza o TelEduc, uma ferramenta de educação a distância desenvolvida pelo Nied (Núcleo de Informática Aplicada à Educação) e pelo IC (Instituto de Computação), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Na interação entre alunos e docentes, em que crianças e adolescentes muitas vezes agregam até mais informação que o professor, é função do educador provar que ele, como professor, tem o conhecimento. "Só assim se consegue fazer análises", explica a pedagoga Marina Caprio, doutora na área, e defensora de sites de busca na internet, ao contrário de muitos colegas de escola que torcem o nariz à informação rápida. "Antes, o acesso era a um único livro didático".
Marina também é defensora dos videogames (claro, não quando o professor fala em frente à lousa) e admite ouvir muitas críticas por isso. Mas para ela, quando um jovem passa horas em frente ao computador para definir uma estratégia em um jogo de luta, está aprimorando um valioso poder de concentração que será útil, inclusive, quando se for interpretar um texto chato na escola.
O adolescente Thales Dini, 16 anos, faz parte da geração plugada a internet e aparelhos eletrônicos, a ponto de a primeira coisa a fazer quando chega em casa de uma balada é ligar o computador para conversar com as mesmas pessoas que estavam com ele há meia hora, mas desta vez por meio de um comunicador instantâneo, na linguagem dos meninos e meninas de sua idade. Na sua mochila, como a maioria, há um celular com um potente mp3 e um minigame Nintendo DS - ferramentas com grande potencial de distração.
Mesmo assim, recentemente foi aprovado entre os primeiros colocados de um concorrido vestibulinho para escola técnica de São Paulo. O segredo, segundo os professores de Thales, é o fato de na sua mochila também ter sempre um livro ou revistas recentes. Ele conseguiu unir informação, raciocínio e interpretação que lhe valeram pontos preciosos na hora de realizar o exame.
A pedagoga Marina Caprio diz não saber se jovens como Thales serão mais brilhantes que seus pais, mas tem certeza de que, ao contrário daqueles que estudaram sobre as ordens do regime militar, o garoto faz parte de um universo livre, crítico e com muita informação para qualquer debate. Ao arriscar um exercício de futurologia, Marina está certa de que os jovens vão ter raciocínio mais rápido. O aluno de hoje faz parte da geração Y, ou da geração M, de multimeios. E os professores também. A renovação de conhecimento precisa ser constante. Para os dois.